sexta-feira, 18 de maio de 2012

JOSÉ GUIMARÃES ROSA


MADRIGAL
No tronco do jequitibá,
Que estavas abraçando,
Colando- lhe o corpo, do rostinho aos pés,
Vejo os arranhões, quase de pé,
Afia as garras,
E, mais embaixo, a casca estraçalhada,
Onde os caititus vêm acerar os dentes…

ALARANADO
No campo seco, a crepitar em brasas,
Dançar as últimas chamas queimada,
Tão quente que o sol pende no ocaso,
Bicado,
Pelos sanhaços das nuvens,
Para cair, redondo e pesado,
Como uma tangerina temporã madura…

MUNDO PEQUENO
O albatroz prepara
Breve passeio
De Polo a Polo…

GARGALHADA
Quando me disseste que não mais me amavas,
E que ias partir,
Dura, precisa, bela e inabalável,
Com a impassibilidade de um executor,
Dilatou-se em mim o pavor das cavernas vazias…
Mas olhei-te bem nos olhos,
Belos como o veludo das lagartas verdes,
E porque já houvesse lágrimas nos meus olhos,
Tive pena de ti, de mim, de todos,
E me ri
Da inutilidade das torturas predestinadas,
Guardadas para nós, desde a treva das épocas,
Quando a inexperiência dos Deuses
Ainda não criara o mundo…

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